terça-feira, 10 de setembro de 2013

Vivendo um conto de fadas

Era uma vez um príncipe e uma princesa que se conheciam de longa data. E num belo dia, a princesa resolveu deixar de lado seus medos e aceitar o pedido de casamento do príncipe.

Com isso, começou a história onde existe uma princesa brava e um príncipe implicante. Eles brigam, viram ogros de vez em quando, mas o príncipe não desiste da princesa e a princesa não desiste do príncipe. E como toda boa história de princesa, tem detalhes surpreendentes e dificuldades aparentes.

Tem várias fadas madrinhas. Nossa Senhora, que passa a frente e transforma tudo como num passe de mágica; a outra transforma o vestido dos sonhos de princesa em realidade; outra que dá assistência; outras fazem parte, de alguma maneira, da linda história de amor.

Tem bruxa má que torce para nada dar certo e tenta de todas as formas atrapalhar a felicidade do casal. Tem até burro falante, um pequenininho ser feliz demais com tudo que acontece e que não para de falar. Tem um “príncipe às avessas” que foi transformado em príncipe de verdade graças a persistência da princesa destemida, que não ficou sentada esperando o príncipe fazer toda a historia acontecer. Uma princesa que, assim como a “Bela”, encontrou um amor que vai além do que os olhos veem.

Tem uma princesa apaixonada que enxergou em um ogro um príncipe perfeito com todas as suas imperfeições. Alguém que não precisa de muitos atributos, nem de cavalo branco, para provar que o príncipe ideal é aquele que ama incondicionalmente e enfrenta tudo e todos para ficar ao seu lado da princesa.

Tem encontros e desencontros; dragões, torres, pontes, dificuldades e obstáculos; Tem amor, cumplicidade, carinho, coragem, força, amizade, companheirismo. Tem uma princesa com sonhos de menina misturados a sonhos de mulher, e que ainda acha difícil distinguir o que é sonho do que é realidade.

Tem um príncipe com defeitos feitos exclusivamente para a princesa.

Era uma vez uma princesa que voltou a acreditar em contos de fadas e sabe que é possível viver feliz para sempre.

Sou a protagonista desse conto de fadas. E, para mim, ele é perfeito.

O nosso felizes para sempre apenas começou. Porque no lado bom da minha vida tem você !!

Paty Maia

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Faculdade falida

Essa semana li uma matéria na Veja que achei muito interessante. Uma entrevista com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcus Vinicius Coelho.

Ele fala sobre a falência do ensino de direito no Brasil. Segundo Coêlho, as faculdades de direito são “uma farsa” onde o professor finge que dá aula e o aluno finge que aprende. Concordo plenamente com ele. São milhares de cursos com professores igualmente falidos, que trabalham em instituições particulares sem a menor condição de funcionar, oferecendo ensino ruim, baseado apenas na doutrina. Aquele famoso professor que decora o “vademecum” e acha que sabe tudo. Isso explica porque 72% dos candidatos são reprovados no exame da OAB.

 “Em vinte anos, o Brasil saiu de cerca de 200 faculdades de direito para 1300. A qualidade, por óbvio, não acompanhou a quantidade. A grade curricular dos cursos é ultrapassada. Tudo isso é o futuro do direito. Mas nas faculdades só se fala do passado. Não é possível continuar com um curso de direito que só estimula a litigiosidade. O ensino ainda é feito por professores que se baseiam em doutrina, não há estudos de casos. É preciso estudar os casos e ter um aprendizado prático: por isso o estágio deve ser ampliado de seis meses para um ano e ser efetivamente prestado. Hoje, é uma farsa. Estamos vivendo uma roda-viva em que a faculdade finge que paga o professor, o professor finge que dá aula e o aluno finge que aprende”. (Coelho)

Porém, de acordo com a matéria, o número de advogados aprovados no exame da Ordem, por ano, pasmem, é maior que o número de advogados existente hoje na França. E pra quê tanto advogado? Pra ficar tirando ladrão, assassino, corrupto da cadeia em troca de milhões de reais? Realmente, isso não faz bem ao Judiciário. E ainda querem ostentar o título de doutor. Só se for doutor em pilantragem. Como bem disse o paraibano Hebert Viana, são trezentos picaretas com anel de doutor.

Segundo o Manual de Redação da Presidência da República, somente deverá ser chamado de doutor quem concluiu satisfatoriamente o curso acadêmico de doutorado. Ou seja, doutor é um título acadêmico e não um pronome de tratamento. É dado àquele que defende uma tese de doutorado e passa bom tempo se dedicando a estudar um determinado assunto.

Geralmente, aquele que faz pesquisa científica, doutor que recebe o título por mérito, não gosta de ser chamado como tal. Isso fica por conta daqueles que se autointitulam “doutores” após receberem um diploma de graduação e que, muitas vezes, desconhecem até a origem do título. Mas, longe de mim querer extinguir o direito de uso do termo “doutor” somente àqueles que defendem uma tese. Até mesmo porque acredito que existem doutores bons e ruins em todas as áreas, basta estudar um pouco mais.

Acredito que a única solução verossímil para evitar a falência total do curso, e da categoria, é coibir a abertura de faculdades de beira de esquina e fechar aquelas que não têm qualidade e muito menos professores competentes para exercer o cargo.

O mercado de advogados que acordam tarde, como disse Joaquim Barbosa, presidente do STF, já está saturado.


Pai ausente

Hoje, dia dos pais, fiquei pensando no papel do pai que se depara contra um muro de mãe. Aqueles pais que tentam ser-estar "presentes" na vida dos filhos, mas encontram um "muro das lamentações" que os tornam ausentes. Já ouvi muita história de "mães" (se é que merecem esse título) que tentam "apagar" a figura do pai do contexto familiar. Há casos em que os pais buscam estar perto dos filhos, querem participar da criação e da educação, mas as mães não deixam ou condicionam às vontades delas, expondo a criança à ruptura com seu pai, prejudicando a estabilidade emocional da criança.

Para ter filhos é preciso muita responsabilidade. Tem que zelar pela saúde física e, principalmente, psicológica da criança. Ser mãe não é só postar fotos com os filhos no facebook e colocar frases bonitinhas, fazer "bonito" nas redes sociais e na frente das pessoas. Ser mãe é muito diferente de ter filho. Existem milhares de mulheres que apenas engravidam, mas não "tem o filho". Quantas mães-avós, mães-tias, mãesdrinha vemos por aí ? É fácil atribuir a outras pessoas a sua função, sua responsabilidade na educação e formação dos filhos. É fácil criticar a outra parte envolvida quando algo não sai de acordo com o que essa mulher espera.

Entendo que toda mãe deve pensar, em primeiro lugar, nos filhos e jamais usá-los como forma de atingir o outro parceiro. Pois o maior prejudicado será sempre o filho, aquele a quem jura amor incondicional. Muitas crianças não tem pais funcionando bem pelos efeitos da consciência da mãe. Existem mães que passam um sentimento de abandono constante que sentem pelo rompimento da relação para os filhos. São poucas as mulheres que conseguem separar suas raivas, decepções e conflitos interiores da relação com os filhos. Com isso as crianças recebem todas as críticas que ela faz ao pai.

Vejo vários casos de famílias que criam seus filhos separados. E a parte mais difícil disso fica com a mãe, eu sei. Mas quando um dos pais não consegue encarar a separação de maneira madura, a convivência torna-se difícil. O fim de um relacionamento é traumático para qualquer casal, mas continuar com uma relação desgastada, com desentendimentos constantes, é pior. A convivência estressante entre os pais prejudica muito mais que a separação. Já li que até recém-nascido sente o clima de desarmonia. E como lidar com essa situação, quando crianças pequenas estão envolvidas? Não falar mal do ex-companheiro, principalmente quando ele estiver ausente, são condutas imprescindíveis para amenizar os inevitáveis traumas.

É fundamental que o filho entenda que a separação não representa uma quebra de vínculo dos pais com ele, mas apenas entre os pais. Uma conversa franca, deixando essa realidade bem clara, é uma boa atitude. Sofrer um trauma não impede a criança de se tornar um adulto saudável e equilibrado. Com a separação, o que deve ser levado em conta é o melhor interesse da criança, como diz a Constituição Federal. Nesse sentido, toda lei e todas as decisões judiciais devem estar de acordo com esse principio, independente do que o pai e a mãe querem. O importante é o que deve ser melhor para o filho, o que garantirá a sua integridade física e emocional. Se ficar com a mãe excelente, se passar o fim de semana com pai, ótimo, porque os vínculos com o pai tornam-se mais fortes, conforme a criança cresce.

Eu sofri muito com a ausência física do meu pai quando criança, mas consegui recuperar isso na adolescência quando ele sofreu um acidente de carro. Eu poderia ter usado essa situação para “me vingar” e não ajudá-lo nesse momento difícil. Porém, enxerguei esse momento de dor como o momento que Deus preparou para que eu tivesse meu pai presente “de verdade”. E foi assim que aconteceu. Mas não me tornei uma criança infeliz, porque eu tinha uma mãe que explicava e tentava contornar a imagem do meu pai ausente. E, em momento algum, ela pensou diferente ou nos aconselhou a tratá-lo com desdém pela maneira como ele nos tratou na infância. Ela sempre disse que, independente de tudo o que aconteceu, ele era nosso pai e merecia todo nosso amor.

As crianças precisam entender que em alguns momentos da vida os pais estarão ausentes, mesmo sem querer. Nesses casos, é recomendável que a mãe explique ao filho as razões da ausência do pai em datas comemorativas, por exemplo, Em vez de criticar ou aproveitar a situação para denegrir a imagem do pai. Razões de trabalho, razões de saúde, enfim, inúmeras situações que o impedem de estar presente. Até mesmo nos casos em que alguns pais não estão presentes porque não querem, as mães precisam saber como agir sem prejudicar ainda mais o filho. Não se trata de retratar o pai ausente como um super-homem, pelo contrário. Simplesmente dizer que ele teve um imprevisto, mas que apesar disso o ama muito. Isso é ser mãe.

Também vivi a experiência de ter o pai do meu filho ausente quando ele era bebê. Nos separamos e, como acontece em muitos casos, foi traumático para mim, mas nunca privei meu filho da presença do pai. Mesmo sabendo que ele tinha outro relacionamento. Mesmo sabendo que meu filho estava comemorando aniversário de um ano com duas festas, uma com o pai e outra mulher “posando de mãe” dele, e outra comigo sem a presença do pai. Eu nunca puni o pai por isso. O laço tinha sido rompido comigo, não com ele. Hoje enxergo as coisas com bons olhos, entendo que meu filho foi sortudo de poder comemorar o aniversário de um ano de vida com duas festas, de duas maneiras felizes, com pessoas que o amavam.

O que eu quero dizer é que é fundamental a presença do pai na vida de um filho. Se o pai conhece a criança e quer participar de sua educação, é recomendável que a mãe o permita. Deve dar à criança a certeza de que ela tem um pai, que pode estar longe no caso das mães solteiras ou separadas, mas que o amam incondicionalmente. As mamães devem ter consciência que é muito importante a presença do pai na educação e formação dos filhos, especialmente nos filhos homens, que veem o pai como um reflexo.

As mães que criam sozinhas as suas crianças e as crianças que crescem sem o pai, podem, de igual maneira às famílias normalmente constituídas, alcançar a felicidade. Porém, isto requer um trabalho de desenvolvimento pessoal consciente e constante, de amadurecimento por parte das mães. Em alguns casos elas não conseguem impor limites nem fazer o filho respeitar normas, tornam-se mães superprotetoras, onipotentes, asfixiantes, por querer, desta maneira, compensar a ausência do pai imposta por ela mesma.

O Papa Francisco disse que não existe mãe solteira, existe mãe. Nesse contexto eu digo, não existe pai ruim porque separou da mãe, ou porque se fez ausente na vida do filho por inúmeros motivos. Existe Pai, e esse ninguém consegue substituir.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Energia, Entusiasmo e Empatia


"Viva com os 3 "E":
Energia, Entusiasmo e Empatia. 
Sorria mais vezes do que o ano passado. Não gaste seu precioso tempo em fofocas, coisas do passado, pensamentos negativos ou coisas fora de seu controle. Melhor investir toda sua vida no positivo do presente. A vida é uma escola e você está aqui para aprender. Os problemas são lições passageiras, o que você aprende com eles é o que fica. 
Tome o café da manhã como um rei, almoce como um príncipe e jante como um mendigo. Sorria mais. Não deixe passar a oportunidade de abraçar quem você ama. Não se leve tão a sério. Fique em paz com o seu passado para não estragar o seu presente. Não compare sua vida com a dos outros. Você não sabe como foi o caminho que eles tiveram que trilhar na vida.  O que os outros pensam de você não é de sua conta. 
Aprenda algo novo cada dia. Ajude sempre os outros. O que você semeia hoje, colherá amanhã. Não importa se a situação é boa ou ruim, ela mudará. Descarte qualquer coisa que não for útil, bonita ou divertida. O melhor está ainda por vir. Não importa como você se sente: levante, vista e participe. Ame sempre com todo o seu ser. Lembre que você está muito abençoado para estar estressado. Cada noite, antes de deitar, agradeça a Deus por mais um dia vivido".
(Pe Marcelo Rossi) 

Ser e estar


Estar bem e feliz é uma escolha e não sorte. É estar perto de pessoas que amamos e que nos fazem bem. É evitar tudo aquilo que nos incomoda e faz mal. É dis...tanciar-se de falsidade, inveja e mentiras. Evitar o rancor, a raiva, e as mágoas. É saber ignorar os que dizem as coisas da boca para fora e do tempo que vc perdeu ao escutá-las. Simples assim!
 

segunda-feira, 15 de agosto de 2011



Hoje recebi uma notícia que meu deixou muito triste. Um padre que fez parte da minha história faleceu essa madrugada. Ele não era apenas um padre que conheci, que me confessei inúmeras vezes. Ele era meu amigo. Foi uma pessoa que me ajudou MUITO em um momento super dificil da minha vida. Quando engravidei, ele acompanhou toda turbulência que enfrentei. Me ajudou, aconselhou, me fez ver as coisas pelo lado bom. Tinha sempre uma palavra positiva para me fazer enxergar que tudo aquilo ia passari. Depois as coisas foram se resolvendo, e ele acompanhando tudo de perto. Acompanhou o crescimento do meu filho, que ele adorava, achava lindo o nome dele, o chamava de Miguelito, com aquele sotaque espanhol e aqueles cabelinhos brancos, aquele jeito carinhoso de "avô". Ele era um querido. Sempre disposto a me ajudar. Me ouvir, aconselhar. Nunca vou esquecer disso. Nunca vou esquecer das pinceladas de otimismo que ele deu em minha vida.

Como dizia Guimarães Rosa, as pessoas não morrem, ficam encantadas. E quando se trata de pessoas que encantaram nossas vidas, o encanto delas é infinitamente maior, é eterno. Hoje é dia da Assunção de Nossa Senhora, e um ser abençoado como Pe Carlos, só poderia receber mais essa benção, ir ao encontro do Pai no dia de Nossa Senhora da Assunção, a Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria. 

É uma grande perda. Que Deus na sua infinita misericórdia lhe dê o descanso eterno.

Pinceladas em minha vida

O que era preto, ele pincelava de branco. Porque onde havia ódio, ele pincelava o Amor.
Onde estava amarelo, ele pincelava o verde. Porque onde havia dúvida, ele plantava a Esperança.
Onde estava escuro, ele pincelava o colorido. Porque onde faltava Fé, ele pincelava Jesus.
Pincelou aqui, pincelou acolá...
Pincelou na minha vida, pincelou na sua...
E agora ele vai pincelar o céu com as cores da alegria, as cores de cada um de nós que ele levou em seu coração.
Hoje o céu está em festa, porque mais um anjo chegou para pintar o céu com as cores da alegria! Com as cores de uma vida iluminada, que coloriu  a vida de cada um de nós com sua presença.
Descanse em Paz, nosso amigo.

Por Patrícia Maia, em 15 de agosto de 2011.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Recomendo

Meu filho, você não merece nada
A crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada
Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.

Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.

Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.

Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.

Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.

É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?

Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.

Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.

Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.

A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.

Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.

Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.

Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.

Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.

O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.

Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.

Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.

Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.

Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.

(Texto de Eliane Brum - jornalista)