quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Faculdade falida

Essa semana li uma matéria na Veja que achei muito interessante. Uma entrevista com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcus Vinicius Coelho.

Ele fala sobre a falência do ensino de direito no Brasil. Segundo Coêlho, as faculdades de direito são “uma farsa” onde o professor finge que dá aula e o aluno finge que aprende. Concordo plenamente com ele. São milhares de cursos com professores igualmente falidos, que trabalham em instituições particulares sem a menor condição de funcionar, oferecendo ensino ruim, baseado apenas na doutrina. Aquele famoso professor que decora o “vademecum” e acha que sabe tudo. Isso explica porque 72% dos candidatos são reprovados no exame da OAB.

 “Em vinte anos, o Brasil saiu de cerca de 200 faculdades de direito para 1300. A qualidade, por óbvio, não acompanhou a quantidade. A grade curricular dos cursos é ultrapassada. Tudo isso é o futuro do direito. Mas nas faculdades só se fala do passado. Não é possível continuar com um curso de direito que só estimula a litigiosidade. O ensino ainda é feito por professores que se baseiam em doutrina, não há estudos de casos. É preciso estudar os casos e ter um aprendizado prático: por isso o estágio deve ser ampliado de seis meses para um ano e ser efetivamente prestado. Hoje, é uma farsa. Estamos vivendo uma roda-viva em que a faculdade finge que paga o professor, o professor finge que dá aula e o aluno finge que aprende”. (Coelho)

Porém, de acordo com a matéria, o número de advogados aprovados no exame da Ordem, por ano, pasmem, é maior que o número de advogados existente hoje na França. E pra quê tanto advogado? Pra ficar tirando ladrão, assassino, corrupto da cadeia em troca de milhões de reais? Realmente, isso não faz bem ao Judiciário. E ainda querem ostentar o título de doutor. Só se for doutor em pilantragem. Como bem disse o paraibano Hebert Viana, são trezentos picaretas com anel de doutor.

Segundo o Manual de Redação da Presidência da República, somente deverá ser chamado de doutor quem concluiu satisfatoriamente o curso acadêmico de doutorado. Ou seja, doutor é um título acadêmico e não um pronome de tratamento. É dado àquele que defende uma tese de doutorado e passa bom tempo se dedicando a estudar um determinado assunto.

Geralmente, aquele que faz pesquisa científica, doutor que recebe o título por mérito, não gosta de ser chamado como tal. Isso fica por conta daqueles que se autointitulam “doutores” após receberem um diploma de graduação e que, muitas vezes, desconhecem até a origem do título. Mas, longe de mim querer extinguir o direito de uso do termo “doutor” somente àqueles que defendem uma tese. Até mesmo porque acredito que existem doutores bons e ruins em todas as áreas, basta estudar um pouco mais.

Acredito que a única solução verossímil para evitar a falência total do curso, e da categoria, é coibir a abertura de faculdades de beira de esquina e fechar aquelas que não têm qualidade e muito menos professores competentes para exercer o cargo.

O mercado de advogados que acordam tarde, como disse Joaquim Barbosa, presidente do STF, já está saturado.


Pai ausente

Hoje, dia dos pais, fiquei pensando no papel do pai que se depara contra um muro de mãe. Aqueles pais que tentam ser-estar "presentes" na vida dos filhos, mas encontram um "muro das lamentações" que os tornam ausentes. Já ouvi muita história de "mães" (se é que merecem esse título) que tentam "apagar" a figura do pai do contexto familiar. Há casos em que os pais buscam estar perto dos filhos, querem participar da criação e da educação, mas as mães não deixam ou condicionam às vontades delas, expondo a criança à ruptura com seu pai, prejudicando a estabilidade emocional da criança.

Para ter filhos é preciso muita responsabilidade. Tem que zelar pela saúde física e, principalmente, psicológica da criança. Ser mãe não é só postar fotos com os filhos no facebook e colocar frases bonitinhas, fazer "bonito" nas redes sociais e na frente das pessoas. Ser mãe é muito diferente de ter filho. Existem milhares de mulheres que apenas engravidam, mas não "tem o filho". Quantas mães-avós, mães-tias, mãesdrinha vemos por aí ? É fácil atribuir a outras pessoas a sua função, sua responsabilidade na educação e formação dos filhos. É fácil criticar a outra parte envolvida quando algo não sai de acordo com o que essa mulher espera.

Entendo que toda mãe deve pensar, em primeiro lugar, nos filhos e jamais usá-los como forma de atingir o outro parceiro. Pois o maior prejudicado será sempre o filho, aquele a quem jura amor incondicional. Muitas crianças não tem pais funcionando bem pelos efeitos da consciência da mãe. Existem mães que passam um sentimento de abandono constante que sentem pelo rompimento da relação para os filhos. São poucas as mulheres que conseguem separar suas raivas, decepções e conflitos interiores da relação com os filhos. Com isso as crianças recebem todas as críticas que ela faz ao pai.

Vejo vários casos de famílias que criam seus filhos separados. E a parte mais difícil disso fica com a mãe, eu sei. Mas quando um dos pais não consegue encarar a separação de maneira madura, a convivência torna-se difícil. O fim de um relacionamento é traumático para qualquer casal, mas continuar com uma relação desgastada, com desentendimentos constantes, é pior. A convivência estressante entre os pais prejudica muito mais que a separação. Já li que até recém-nascido sente o clima de desarmonia. E como lidar com essa situação, quando crianças pequenas estão envolvidas? Não falar mal do ex-companheiro, principalmente quando ele estiver ausente, são condutas imprescindíveis para amenizar os inevitáveis traumas.

É fundamental que o filho entenda que a separação não representa uma quebra de vínculo dos pais com ele, mas apenas entre os pais. Uma conversa franca, deixando essa realidade bem clara, é uma boa atitude. Sofrer um trauma não impede a criança de se tornar um adulto saudável e equilibrado. Com a separação, o que deve ser levado em conta é o melhor interesse da criança, como diz a Constituição Federal. Nesse sentido, toda lei e todas as decisões judiciais devem estar de acordo com esse principio, independente do que o pai e a mãe querem. O importante é o que deve ser melhor para o filho, o que garantirá a sua integridade física e emocional. Se ficar com a mãe excelente, se passar o fim de semana com pai, ótimo, porque os vínculos com o pai tornam-se mais fortes, conforme a criança cresce.

Eu sofri muito com a ausência física do meu pai quando criança, mas consegui recuperar isso na adolescência quando ele sofreu um acidente de carro. Eu poderia ter usado essa situação para “me vingar” e não ajudá-lo nesse momento difícil. Porém, enxerguei esse momento de dor como o momento que Deus preparou para que eu tivesse meu pai presente “de verdade”. E foi assim que aconteceu. Mas não me tornei uma criança infeliz, porque eu tinha uma mãe que explicava e tentava contornar a imagem do meu pai ausente. E, em momento algum, ela pensou diferente ou nos aconselhou a tratá-lo com desdém pela maneira como ele nos tratou na infância. Ela sempre disse que, independente de tudo o que aconteceu, ele era nosso pai e merecia todo nosso amor.

As crianças precisam entender que em alguns momentos da vida os pais estarão ausentes, mesmo sem querer. Nesses casos, é recomendável que a mãe explique ao filho as razões da ausência do pai em datas comemorativas, por exemplo, Em vez de criticar ou aproveitar a situação para denegrir a imagem do pai. Razões de trabalho, razões de saúde, enfim, inúmeras situações que o impedem de estar presente. Até mesmo nos casos em que alguns pais não estão presentes porque não querem, as mães precisam saber como agir sem prejudicar ainda mais o filho. Não se trata de retratar o pai ausente como um super-homem, pelo contrário. Simplesmente dizer que ele teve um imprevisto, mas que apesar disso o ama muito. Isso é ser mãe.

Também vivi a experiência de ter o pai do meu filho ausente quando ele era bebê. Nos separamos e, como acontece em muitos casos, foi traumático para mim, mas nunca privei meu filho da presença do pai. Mesmo sabendo que ele tinha outro relacionamento. Mesmo sabendo que meu filho estava comemorando aniversário de um ano com duas festas, uma com o pai e outra mulher “posando de mãe” dele, e outra comigo sem a presença do pai. Eu nunca puni o pai por isso. O laço tinha sido rompido comigo, não com ele. Hoje enxergo as coisas com bons olhos, entendo que meu filho foi sortudo de poder comemorar o aniversário de um ano de vida com duas festas, de duas maneiras felizes, com pessoas que o amavam.

O que eu quero dizer é que é fundamental a presença do pai na vida de um filho. Se o pai conhece a criança e quer participar de sua educação, é recomendável que a mãe o permita. Deve dar à criança a certeza de que ela tem um pai, que pode estar longe no caso das mães solteiras ou separadas, mas que o amam incondicionalmente. As mamães devem ter consciência que é muito importante a presença do pai na educação e formação dos filhos, especialmente nos filhos homens, que veem o pai como um reflexo.

As mães que criam sozinhas as suas crianças e as crianças que crescem sem o pai, podem, de igual maneira às famílias normalmente constituídas, alcançar a felicidade. Porém, isto requer um trabalho de desenvolvimento pessoal consciente e constante, de amadurecimento por parte das mães. Em alguns casos elas não conseguem impor limites nem fazer o filho respeitar normas, tornam-se mães superprotetoras, onipotentes, asfixiantes, por querer, desta maneira, compensar a ausência do pai imposta por ela mesma.

O Papa Francisco disse que não existe mãe solteira, existe mãe. Nesse contexto eu digo, não existe pai ruim porque separou da mãe, ou porque se fez ausente na vida do filho por inúmeros motivos. Existe Pai, e esse ninguém consegue substituir.