“Era um jequitibá enorme, o mais imponente da floresta. Mas orgulhoso e gabola. Fazia pouco das árvores menores e ria-se com desprezo das plantinhas humildes. Vendo a seus pés uma pequena planta de haste fina e flexível, disse:
--- Que triste vida levas, tão pequenina, sempre à beira d’água, vivendo entre saracuras e rãs... Qualquer ventinho te dobra. Um tisio que pouse em tua haste já te verga que nem bodoque. Que diferença entre nós! A minha copada chega às nuvens e as minhas folhas tapam o sol. Quando ronca a tempestade, rio-me dos ventos e divirto-me cá do alto a ver os teus apuros.
--- Muito obrigada! – respondeu a plantinha ironicamente. – Mas fique sabendo que não me queixo e cá à beira d’água vou vivendo como posso. Se o vento me dobra, em compensação não me quebra e, cessado o temporal, ergo-me direitinha como antes. Você, entretanto...
--- Eu, quê?
--- Você, jequitibá, tem resistido aos vendavais de até aqui: mas resistirá sempre? Não revirará um dia de pernas para o ar?
--- Rio-me dos ventos como me rio de ti – murmurou com ar de desprezo a orgulhosa árvore.
Meses depois, na estação das chuvas, sobreveio certa noite uma tremenda tempestade. Raios coriscavam um atrás do outro e o ribombo dos trovões estremecia a terra. O vento infernal foi destruindo tudo quanto se opunha à sua passagem.
A plantinha, apavorada, fechou os olhos e curvou-se rente ao chão. E ficou assim encolhidinha até que o furor dos elementos se acalmasse e uma fresca manhã de céu limpo sucedesse àquela noite de horrores. Ergueu, então, a haste flexível e pôde ver os estragos da tormenta. Inúmeras árvores por terra, despedaçadas e, entre as vítimas, o jequitibá orgulhoso, com a raizama colossal à mostra.”
Esta belíssima fábula nos remete, pelo menos, a uma passagem bíblica: Ezequiel 31. Nessa passagem Faraó, o rei do Egito, é comparado a uma árvore frondosa e soberba, mas prestes a ser derrubada e destruída pela ira do Senhor, como ele fez com a poderosa Assíria. “Todas as aves do céu habitarão na sua ruína, e todos os animais do campo se acolherão sob os seus ramos, para que todas as árvores junto às águas não se exaltem na sua estatura, nem levantem o seu topo no meio dos ramos espessos, nem as que bebem as águas venham a confiar em si, por causa da sua altura; porque todos os orgulhosos estão entregues à morte e se abismarão às profundezas da terra, no meio dos filhos dos homens, com os que descem à cova” (Ez 31.13,14).
A soberba está entre os pecados que Deus mais detesta (Pv 8.13). “Olhar altivo e coração orgulhoso, a lâmpada dos perversos, são pecado” (Pv 21.4). A consequência para um coração elevado e um ego exaltado é a ruína. “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda” (Pv 16.18). “A soberba do homem o abaterá, mas o humilde de espírito obterá honra” (Pv 29.23). Daí a recomendação urgente e necessária do apóstolo Paulo: “Tende o mesmo sentimento uns para com os outros; em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde; não sejais sábios aos vossos próprios olhos” (Rm 12.16).
Lembre-se: Quanto maior a altura, maior o tombo...
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